segunda-feira, novembro 03, 2008

Caos Branco

Ensaio Sobre a Cegueira é uma adaptação cinematográfica do livro homônimo escrito pelo português José Saramago. Muitos consideravam a obra como impossível de se filmar, pela complexidade do texto, mas o brasileiro Fernando Meireles encarou a tarefa e provou o contrário, dirigindo um filme excelente.

Tão bom que foi aprovado até pelo autor do livro, ele inclusive chegou a declarar que agora sabia como são os rostos dos personagens que havia criado. Um dos aspectos mais interessantes da fita é que nada tem nome, nem o lugar onde a estória se passa nem os personagens.

O filme se inicia com um personagem (Yusuke Iseya) perdendo a visão no meio do trânsito, ele é levado pra casa por um desconhecido (Don McKellar, também autor do roteiro) e consulta um oftalmologista (Mark Ruffalo) que não detecta nenhuma causa para a perda repentina da visão e não demora pra que esse surto passe a atacar o restante da população. Sem distinções, exceto uma pessoa, a mulher do médico (Juliane Moore, excelente) que finge não enxergar para poder acompanhar o marido. O mais curioso disso tudo é ao invés de negra como a cegueira normal, os afetados enxergam tudo branco.

Então o governo coloca os infectados em quarentena, numa espécie de manicômio desativado para que a doença não se espalhe ainda mais. Imagine um local fechado repleto de gente que não enxerga nada, sem banho, nem condições de higiene. Não demora muito para que surjam também os conflitos, o arbitrário Rei da Camarata 3 (Gael Garcia Bernal) tenta dominar os outros pavilhões, pois conseguiu se apossar de todo o estoque de mantimentos e chantageia os outros internos.

A situação chega ao ponto de exigir que todas as mulheres façam sexo com ele e seus companheiros em troca dos mantimentos, uma das cenas mais perturbadoras do filme, mesmo suavizada após reclamações do público nas sessões teste, não perdeu o impacto.

Um outro ponto que deve ser destacado na produção é a ótima fotografia de César Charlone, que já havia trabalhado com o diretor em Cidade de Deus. Ora desfocada, ora em tons em branco e cinza, esses efeitos acabam ofuscando o expectador e dando a sensação de desconforto e empatia com a dificuldade dos personagens. Sem dúvida, Ensaio Sobre a Cegueira é um dos melhores filmes do ano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa historia de acharem que nao podem transformar um livro em um excelente filme ja aconteceu com o famoso Senhor dos aneis, sobre o livro do Saramago e o filme do Meireles não tenho o que falar, pois não conheço a obra. Mas por seu comentario a historia eh bem interessante e merece ser vista como tb lida.

Incrível como algumas músicas desencadeiam lembranças guardadas bem no fundo do inconsciente. O disco “To The Faithfull Departed” dos Cranbe...