Estou lendo uma trilogia fantástica do Italo Calvino chamada Os Nosso Antepassados. Composta pelos romances O Visconde Partido ao Meio, O Barão nas Árvores e O Cavaleiro Inexistente. Cada livro tem um protagonista bem peculiar e a escrita irônica e bem humorada do autor me inspirou a escrever sobre os meus antepassados. Resolvi começar por minha bisavó paterna.
Não cheguei a conhecer Dona Francisca, mas ela é uma figura mítica na família. Sua personalidade forte e boa índole eram assuntos recorrentes nas histórias que meu avô contava sobre a sogra. Algumas eram tão inusitadas, que podiam facilmente pertencer ao universo fantástico de García Márquez.
Era uma mulher independente, que mesmo
com sua pesada rotina pesada de mãe e dona de casa. Costurava, cultivava e
vendia tabaco, verduras, galinhas. Tinha sempre sua renda extra, para não precisar
depender financeiramente de ninguém.
Alguns diziam que ela tinha o coração
pequeno, pois cabia pouca gente dentro dele. Sua afeição e carinhos eram para
poucos, mas os felizardos em garantir esse cantinho eram tratados com deferência.
Ela não escondia suas preferências.
Mas a sua característica mais marcante,
era que nunca voltava atrás. Depois de tomar qualquer decisão, era caso encerrado.
Logo após o casamento, meu bisavô gentilmente pediu que ela não o chamasse de
Senhor, agora eles eram casados e podiam ser mais informais.
Isso a enfureceu a ponto de jurar
não pronunciar nunca mais o nome do marido. E ela seguiu firme com essa
promessa até o fim da vida. Cada vez que tinha que se referir a ele, mandava
alguém chamá-lo: menino, chama teu avô ou menina, chama teu pai pra almoçar. Quanto
a mim, eu reconheço que sou teimoso às vezes mas estou tentando melhorar.