sábado, março 03, 2007

Perdidos na Tradução


Babel encerra a excelente trilogia dos mexicanos Alejandro Gonzáles Iñárritu (Direção) Guilhermo Ariaga (Roteiro). Iniciada com Amores Brutos em 2000 sobre amores violentos, após esse 21 Gramas sobre a morte e o desejo de vingança que era montado de forma não linear em 2003 e agora Babel com a incomunicabilidade. Os três filmes são bem diferentes, mas tem em comum a mesma premissa. Histórias paralelas que de alguma maneira acabam se conectando e possuem tramas reveladas gradualmente, mesmo estilo de narrativa, marcada por cortes bruscos, aumentando ainda mais a sensação de tragédia eminente.
A torre de Babel descrita na Bíblia fala sobre a ambição humana de construir uma torre tão alta que chegaria ao céu, mas Deus criou vários idiomas tornando impossível a comunicação entre os homens com o desentendimento, eles se dispersaram pelo mundo inteiro, então o filme se passa em três partes distintas do mundo.
A trama se inicia no Marrocos onde dois garotos Yussef (Boubker Ait El Caid) e Ahmed (Said Tarchani), estão pastoreando as cabras do pai com um rifle, para evitar que os chacais não ataquem o rebanho. Então os meninos passam a testar o alcance dos tiros que segundo o vendedor chegam até três quilômetros de distância, eles miram e atiram em um ônibus de turismo que vem cruzando a estrada. Entre os passageiros, está o casal Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett) que estão tentando salvar um casamento em crise com a viagem. A bala atinge Susan, a partir daí começa o calvário do marido para tentar salvar a esposa.
Já nos EUA, somos apresentados às crianças Debbie (Elle Fanning, irmã mais nova de Dakota Fanning) e Mike (Nathan Gamble) que estão sob os cuidados de Amélia (Adriana Barraza, Indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), uma imigrante ilegal mexicana que precisa atravessar a fronteira para o casamento do seu filho, mas não encontra ninguém para cuidas das crianças e decide leva-las consigo ao lado do sobrinho Santiago (Gael García Bernal).
No Japão conhecemos Chieko (Rinko Kikuchi), uma adolescente surda-muda ainda abalada com o suicídio da mãe, sofrendo com a solidão e a distância do pai e lidando com as descobertas da adolescência. Mesmo sendo tão diferentes e passando em partes diferentes do mundo, essas estórias possuem uma conexão além da incomunicabilidade. Os longos 142 minutos passam voando, tamanho o envolvimento do espectador a trama, o final pode frustrar alguns que esperavam um desfecho mais original, mas o resultado é positivo.
Babel teve sete indicações ao Oscar, mas só levou a de melhor Trilha Sonora, realmente merecido, as composições de Gustavo Santaolalla consegue envolver cada segmento, a sonoridade vai se modificando de acordo com a região onde a cena ocorre, inspirada na música regional do país. O filme ainda concorreu a Palma de Ouro em Cannes, levou apenas o prêmio de melhor Diretor e o do Júri Eucumênico. Também faturou o Globo de Ouro de Melhor Filme.
Com a trilogia também se encerrou a parceria, a amizade entre o diretor e o roteirista que já durava nove anos, os dois andam brigando abertamente nos meios de comunicação, pois Ariaga alega que não está tendo seu trabalho reconhecido. Uma pena.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Ô, Vicente, assisti a Babel no início da semana. Tem razão quanto a alegoria bíblica, ainda mais, em tempos conturbados como os nossos, em que a comunicação sofre os problemas decorrentes do medo(o medo de ataques terroristas, de ficar só, de não conseguir voltar, de morrer, da solidão). Gostei muito do que vi. Acho que foi o grande injustiçado do Oscar..."

Anônimo disse...

Assisti ao trailer..achei muito interessante, bem dinânico...assim q sair em vídeo, vou assistir..

Incrível como algumas músicas desencadeiam lembranças guardadas bem no fundo do inconsciente. O disco “To The Faithfull Departed” dos Cranbe...